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Um ano fenomenal





365 dias, 365 noites, 5 horas e 40 e tal minutos. 
Verão, Outono, Primavera, Verão. 
Doze ciclos lunares e uns quantos eclipses. 

Um ciclo. 

A Terra completou uma volta ao Sol e eu trago-o agora também comigo. O meu Solinho.


Esta nossa última volta orbital testemunha o tamanho de uma ampla galáxia em emoções e desafios.  
A maternidade é um processo tão fenomenal como qualquer (outro) evento cósmico e estou tão grata por percorrê-lo com um Ser tão sereno e amoroso. Há um ano não nasceu apenas uma vida. Nasceu-me igualmente um mestre de ensinamentos e sabedoria. Nasceu uma mãe. Nasceu a Força.
Nesse dia, naquele preciso alinhamento planetário, naquele exacto momento universal, nasceu para mim o Amor. 

Nunca antes tinha eu privado assim com o Amor, filho. 


Equinócio


O útero pulsa segundo o coração do peito, intuitivo como o farejar de um lobo em lua negra. Ecos de uma suave brisa na água.  O ribombar de um tambor por perto.
O berço de amora e marfim veste-se para o Outono com o cheiro do chá de romã e espera.
Respira o tempo.
As sementes amadurecidas não se esqueceram jamais de esperar a Primavera e as longas raízes das árvores permanecerão demoradas no odor fértil da terra.

energia eólica

Correr por uma ribeirinha e sentir a lama malandrosamente escapar-se aos nossos pés. Ouvir cucos, as árvores e as gaivotas
Espinafres, espinafres, espinafres. Couves roxas, couves portuguesas."Olha cebolas!"
Perder o Norte em vales de aldeias sobre o mar e acelerar, acelerar, acelerar .
Sentir, por fim, a majestosa presença dos moinhos gigantes que rasgam o som do campo em irrequietos uivos .


Um dia moraremos no campo.

dias serenos


Finalmente oiço o som das gotas no telhado do logradouro. Tal como a minha respiração no silêncio, este gotear acalma-me.

"Cá vamos andado!"

A vida faz-se de pequenos e grandes passos. Pé ante pé. De passos. Cautelosos, para contornar a imprevisibilidade do solo e os perigos que este esconde, bem como para fazer frente às intempéries, escolhemos, dia após dia, calçarmo-nos. E com o passar dos anos, devido à excessiva protecção, vamos perdendo a sensibilidade e motricidade natural dos nossos pés. Muitos não conseguem sequer mexer os dedos dos pés individualmente com a habilidade com que mexem os das mãos.

As mãos, sempre desprotegidas.

Todavia, calçados, as feridas causadas por um pontapé numa pedra são substituídas por lesões igualmente dolorosas. Bolhas, calos, joanetes, infecções dermatológicas e, por vezes, sérios problemas na coluna.

São os passos da nossa vida, cheios de contradições.

o meu gineceu


Vivi uma infância matriarcal, acalentada não só pelas minhas avós, como por outras mulheres da família cuja ternura e dedicação eram, sem qualquer distinção, igualmente de segundas-mães. Tornei-me mulher. Uma (ainda pequenina) mulher amadurecida ao sol de cada personalidade, de cada vontade e credo, por cada uma daquelas cinco vidas.


A primeira a falecer não me surpreendeu dada a condição de saúde. Despedi-me dela, semanas antes, com fortes apertos nas já muito frágeis mãos. Lembro-me de, ao sair da salinha, voltar-me para fixar o seu rosto. Um rosto que não o dela. Fui de férias. Morreu-me a 600 Km.
Há uns meses voltei a perder uma dessas mulheres. Dessa vez, sussurrou-me um aviso que fingi não ter percebido bem. Apesar de tudo, despedi-me, no hospital, com um soluçado "Até já!" que golpeou-me o peito semanas a fio. As manhãs na praia, as suas amigas na esplanadas, o corneto de chocolate, o cheiro da praça, o Senhor das Chagas, o pão do , a sopa de peixe, "a minha menina". Faz-me falta aquela Sesimbra.
O primeiro dia de 2012 chegou marcado por mais uma perda no meu gineceu. Depois de uma noite pouco dormida e com uma dor de estômago herdada do excesso de comida e álcool, deparei-me com a morte daquela a quem não me cheguei a despedir. Confesso, era uma mulher de uma bravura tão peculiar que sempre a julguei imortal. Vê-la imóvel e transparente numa enregelada capelinha, afligiu-me bastante.
Só ontem entrei no seu luto e percebi que poderei não ter oportunidade para me despedir das velhinhas que me restam. Por que razão sentirei tamanha necessidade em fixar um último momento e dizer-lhes um derradeiro adeus? 
Temo bastante que estas mortes tenham sido um estágio, um alerta, para a possibilidade da perda das minhas avós biológicas.


Passo frequentemente por este painel de Almada Negreiros na estação de metro do Saldanha. Hoje, depois de escrever este texto, lembrei-me destas mulheres e da sua intimidade. Como a imagem persistia em cada pestanejar, apesar das horas avançadas, desviei caminho para as ver e fotografar. Não posso deixar de referir que, apesar de por toda a estação os mais atentos conseguirem identificar sinais do Almada, lamento não ser referido junto ao painel o autor, o ano e o título da obra.


Já na gare, pronta para retomar viagem, tropecei noutra de Negreiros: "As pessoas que eu mais admiro são aquelas que nunca se acabam". Talvez esta frase apazigúe o meu medo em deixar por dizer um último adeus a alguém.


dance-makers

Depois de umas férias enubladas pelo mau tempo e pelas atrocidades que um dente do siso consegue realizar, rumámos ao Alentejo.
Ainda arrebatados pela singularidade da casa e da paisagem, somos conduzidos pelo anfitrião para uma noite de dança contemporânea. Conhecemos Bill T. Jones. Depois Akram Khan e Sidi Larbi na sublime "Zero degrees" (2005), peça que marca o encontro dos dois bailarinos como Nitin Sawhney e Antony Gormley. Pela noite dentro, segue-se o surrealismo do coreógrafo sueco Mats Ek - o Magritte da dança - com a divina Ana Laguna em "Carmen", de Bizet, (1992).


Para nos deixar a sonhar, a sessão terminou com Sylvie Guillem e Niklas Ek (irmão do Mats) em "Smoke" (1995). Podem ver aqui a peça completa.


ups...

Manuel Santos Maia , "Alheava"
(fotografia de Edgar Libório)
Depois de visitarmos o projecto de Manuel Santos Maia, inserido na 4ª Edição do Junho Das Artes, tirámos uma fotografia que, sem querer, saiu assim..


campo de batalha

Dentro de dias, farão 626 anos desde que se deu, no Campo de São Jorge, a Batalha de Aljubarrota. Hoje andámos por lá, em cenário de guerra.

Implantado num edifício contíguo ao planalto onde decorreu o histórico confronto, descobrimos o Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota (CIBA) que, desde 2008, pretende salvaguardar e valorizar o espólio relativo a este episódio e o local onde se travou a luta. O CIBA é composto por quatro núcleos expositivos, cuja informação está exemplarmente bem tratada e apresentada, recorrendo a tecnologias raras nos espaços museológicos nacionais.
Num pequeno anfiteatro assistimos a um excelente espectáculo multimédia – “A Batalha Real” – no qual pertence o documentário “Aljubarrota” de Margarida Cardoso, produzido pela Filmes do Tejo, que recria a situação política e social que conduziram ao conflito entre o exército português e o de Castela, o momento da batalha e as estratégias e tácticas militares utilizadas por D. Nuno Álvares Pereira.

No espaço destinado à exposição dos trabalhos arqueológicos realizados desde os anos 50 existem uns expositores que, muito à CSI, explicam as causas e as armas responsáveis pelas lesões em alguns ossos encontrados numa vala comum. Brilhante!

Cá fora, segundo um percurso pedonal, equipado com simuladores de fotografias 3D e pontos com áudio descrições, somos conduzidos pelo campo de batalha, do qual fiz um desvio para fotografar um conjunto de pequeninas casas saloias abandonadas.

Vale bem a pena visitar o Campo de São Jorge e vale bem ainda a pena almoçar pela cafetaria do CIBA, onde provámos um creme de castanhas m e m o r á v e l !

Sol, sal, sopas e descanso

De férias da Cavalo de Pau e a bagagem do azul.porcelana atelier já pesa com tantos projectos. Em Setembro começará uma nova fase, até lá, vou molhando os pézinhos!

a cada instante um ribombar de um trovão


A repentina chuvada desanuviou o ar e todos os ruídos da cidade. Naquele percurso, todos os dias barulhento, todos os dias acidentado, encontrei-me só. Não vi ninguém, não ouvi nada, apenas os meus pés, enregelados, que se esgueiravam apressadamente para casa. A instabilidade do céu e as massas abafadas de ar anunciavam o fim daquele dia. A minha tia morreu, não me viu casar.
Sinto as gotas pesadas assentarem, desconfortáveis, sobre vestido, a aguilhoarem-me a pele nua das pernas. Não corro, não me protejo, entrego-me à excelência ambiente; um cenário meticulosamente montado em contornos nítidos e de fina luz, filtrada em tons de lilás.
Este é o instante: eu e a trovoada. Nada mais.
A morte é isto, um instante inocente como um grito de um trovão.


fiando para desfiar

John William Waterhouse, Penelope and the Suitors, 1912

Recordas Penélope a quem a dedicação por Ulisses fez com que as suas mãos tecessem durante o dia a colcha para o dossel funerário do seu sogro, desfazendo-a durante a noite, longe dos olhares da corte. Fiando e desfiando esperava ganhar ao tempo a espera do seu marido.

Tecer é fazer teia ou tecido, é urdir, tramar, compor entrelaçando.

Criando um complexo entrelaçado também tu esperas ganhar ao tempo enquanto este apenas passa por ti. Passas pelo tempo. Confias-lhe que esbata, com o seu vagar, a lembrança daquele rosto esquálido de pupilas desconfiadas cravadas nas entristecidas órbitas. Confias-lhe a compreensão daquele temperamento receoso, defensivo, daquela forma leviana de existência.

Interrogas-te, quando já te sentias liberta, porque retomas à revolta quando encontras o vazio de tão pouco interessante olhar. Como o pudeste amar? perguntas ao tempo a quem tanto tempo não parece impressionar.

E tal como Penélope dedicas-te ilimitadamente ao teu trabalho, fiando e desfiando fio por fio, na espera da serenidade.

“Um dia, perceberás.”

até já!

É delicado o fio que mantém o seu corpo presente aos nossos olhos. A sua extrema magreza, os ombros desnudos na bata do hospital, o emaranhado de cabelo mal arranjado, a pele, os olhos, a ausência do seu perfume. Tudo me coloca à prova na pequena sala dos cuidados intensivos de cardiologia.

Há vinte e oito anos nasci naquele mesmo austero edifício, num qualquer bloco vizinho. Talvez me tenha vindo visitar, chegando pela manhã da vila dos meus verões. Talvez me tenha conhecido nessa mesma tarde, desconhecendo que ali, num qualquer bloco vizinho, anos mais tarde, me iria oferecer uma exigente prova de esforço.

Sei que tudo aquilo que ela é atravessa a complexa rede de tubos, aparelhos e silvos electrónicos. Ela é memória, é a tia a quem devo estar ali.

Entro na sala sustendo uma encorajadora respiração. Não me permito acossar diante do seu hostil vislumbre e tento manter a sua mão firmemente fechada dentro da minha, sem denunciar o meu tiritar ou uma gota de suor. Procuro rapidamente qualquer palavra, não a certa, mas a oportuna. Ela reage e as máquinas comprovam o sobressalto do seu coração. Escapa-me a voz e apercebo-me dos amargos silêncios que interrompem o tremor da minha fala.

E à despedida, depois das heróicas lágrimas sustidas, escapa-me um imprevisto “Até já!” que não consigo resolver. Saio da sala.

Atormenta-me ainda essa expressão.

"Agora é a vossa vez!"

... disse Pedro Barroso emocionado depois de o Bruno lhe ter dito: "Estamos a continuar o seu legado de luta."

Nesse dia cometi uma falha lamentável, a necessidade de levar uma mala pequena e leve acabou por deixar esquecida a câmara fotográfica, levando-me a captar a manifestação com a medíocre câmara do telemóvel. Conclusão, poucas imagens resultaram com a qualidade suficiente para não as apagar da memória. Guardarei contudo outras imagens deste dia que as câmaras não conseguiriam captar.


Dias antes, numa conversa ao jantar, concluímos que o rótulo “Geração à Rasca” é demasiadas vezes apropriado pelos media de forma insultuosa, reunindo-nos num conjunto homogéneo de molengões, demasiado mimado para não procurar trabalho noutras áreas que não a da nossa formação.

Os dois exemplos cá de casa contradizem este estigma e tornam-me demasiado irritável perante as frequentes reportagens televisivas, deturpadoras, onde aparecem jovens depressivos que se dizem cansados de enviar CV´s sem efeito para empresas que laboram apenas na sua área de actividade. Esses não deverão estar tão enrascados quanto aqueles que, face a esta situação e tendo necessariamente que pagar a casa, umas outras tantas facturas mensais, alimentação e em alguns casos a cresce do pequenote, têm que, sem apego, sem preconceitos e sem vergonhas, procurar desenrascar-se num outro caminho. Há ainda aqueles que lutam diariamente com rendimentos semelhantes ao ordenado mínimo nacional. Estes são os exemplos que conheço, aqueles que estão verdadeiramente à rasca. Nesta onda idiota de exemplos mal dados, esta geração é encarada à partida com desdém segundo os Pachecos Pereiras que levitam num mundo paralelo sem contacto com esta realidade. Para eles só pretendemos um “emprego para a vida” (!), chegando a afirmar que “mais vale um trabalho precário do que nada” (!!).

Eu só procuro estabilidade, mais emocional do que económica, procuro saber com o que contar amanhã, procuro ser tratada com respeito e dignidade quer nas relações pessoais como nas laborais.

A vida trocou-me os passos e optei por não continuar a exercer arquitectura com as condições que me eram oferecidas. Felizmente encontrei um óptimo trabalho, não muito distante da minha área de formação, bem remunerado e onde sou exemplarmente bem estimada. Manifestei-me no passado sábado contra a penosa realidade que vivi quando trabalhei nos ateliers de arquitectura. A falta de respeito e a precariedade - sob forma de recibos verdes, péssimas remunerações, entre outros - estão plenamente instaladas na nossa sociedade e são encaradas com normalidade. Manifestei-me sobretudo contra esta nova forma de ver o trabalho e o trabalhador. Manifestei-me pelas condições sociais que nos são oferecidas, pelo país que nos deixam de herança e pelo futuro pouco auspicioso.


No dia 12 de Março finalmente viram que este protesto não se trata de uma luta intergeracional como muitos o fizeram querer, mas sim um grito de desespero de filhos, país e avós. Um grito de um povo à rasca.

á, bê, cê ..

Objectos adaptados a brincadeiras de felinos, desde as mais surpreendente às mais comuns, são já convidados íntimos da casa.
Presenciamos serenamente os assaltos diários à despensa; expedições com mais olhos que barriga cujo objectivo se centra, particularmente, na exploração do canto das farinhas, farelos e sementes; a zona dos ingredientes para a produção caseira de pão. Sem o nosso espanto, todos os dias rodopiam pela casa gatos de cores diversas com embalagens de plástico e cartão pela boca.
Desta vez, enquanto assistíamos a um filme enrolados num molengão cobertor, um ataque fulminante às prateleiras causou inúmeras baixas no pacote que aguardava por uma sopa de Miso. O ralhete ficou suspenso pelo entusiasmo causado pelo inaudito efeito letrado no chão que puxou antes pela criatividade de todos.

abafador

100 ideias para o futuro na revista LER, n.º 100

"Iremos parar durante um minuto todos os dias, interromper o que estivermos a fazer, de repente, a meio de uma palavra, de uma passada, de uma garfada. E, perfeitamente imóveis, veremos que o mundo é uma cruz para quem o carrega e um berlinde para quem o empurra. Depois é só escolher."


isn't that why I love you so very much?

Por vezes gosto de fechar os olhos enquanto conduzo e de sentir as tuas mãos guiarem o volante.

um lugar ao sol

Há demasiadas coisas que me fazem estar plenamente grata por tudo o que tenho vindo a conquistar nos últimos dois anos. O meu fabuloso horário de trabalho faz, inevitavelmente, parte dessa lista. Posso dormir até horas decentes, demorar-me no pequeno-almoço, evitar as multidões no metro e no supermercado e ... posso contemplar, todas as manhãs, o deleite dela ao sol.

parabéns!

A SOUNDZONE online magazine inaugura agora uma secção dedicada à 7ª Arte. Pedro Oliveira e Bruno Sousa Villar são as duas novas caras da equipa.

O rapaz encontra finalmente o merecido reconhecimento e a sua extraordinária cultura musical e cinematográfica torna-o num ser extremamente requisitado !