"Agora é a vossa vez!"

... disse Pedro Barroso emocionado depois de o Bruno lhe ter dito: "Estamos a continuar o seu legado de luta."

Nesse dia cometi uma falha lamentável, a necessidade de levar uma mala pequena e leve acabou por deixar esquecida a câmara fotográfica, levando-me a captar a manifestação com a medíocre câmara do telemóvel. Conclusão, poucas imagens resultaram com a qualidade suficiente para não as apagar da memória. Guardarei contudo outras imagens deste dia que as câmaras não conseguiriam captar.


Dias antes, numa conversa ao jantar, concluímos que o rótulo “Geração à Rasca” é demasiadas vezes apropriado pelos media de forma insultuosa, reunindo-nos num conjunto homogéneo de molengões, demasiado mimado para não procurar trabalho noutras áreas que não a da nossa formação.

Os dois exemplos cá de casa contradizem este estigma e tornam-me demasiado irritável perante as frequentes reportagens televisivas, deturpadoras, onde aparecem jovens depressivos que se dizem cansados de enviar CV´s sem efeito para empresas que laboram apenas na sua área de actividade. Esses não deverão estar tão enrascados quanto aqueles que, face a esta situação e tendo necessariamente que pagar a casa, umas outras tantas facturas mensais, alimentação e em alguns casos a cresce do pequenote, têm que, sem apego, sem preconceitos e sem vergonhas, procurar desenrascar-se num outro caminho. Há ainda aqueles que lutam diariamente com rendimentos semelhantes ao ordenado mínimo nacional. Estes são os exemplos que conheço, aqueles que estão verdadeiramente à rasca. Nesta onda idiota de exemplos mal dados, esta geração é encarada à partida com desdém segundo os Pachecos Pereiras que levitam num mundo paralelo sem contacto com esta realidade. Para eles só pretendemos um “emprego para a vida” (!), chegando a afirmar que “mais vale um trabalho precário do que nada” (!!).

Eu só procuro estabilidade, mais emocional do que económica, procuro saber com o que contar amanhã, procuro ser tratada com respeito e dignidade quer nas relações pessoais como nas laborais.

A vida trocou-me os passos e optei por não continuar a exercer arquitectura com as condições que me eram oferecidas. Felizmente encontrei um óptimo trabalho, não muito distante da minha área de formação, bem remunerado e onde sou exemplarmente bem estimada. Manifestei-me no passado sábado contra a penosa realidade que vivi quando trabalhei nos ateliers de arquitectura. A falta de respeito e a precariedade - sob forma de recibos verdes, péssimas remunerações, entre outros - estão plenamente instaladas na nossa sociedade e são encaradas com normalidade. Manifestei-me sobretudo contra esta nova forma de ver o trabalho e o trabalhador. Manifestei-me pelas condições sociais que nos são oferecidas, pelo país que nos deixam de herança e pelo futuro pouco auspicioso.


No dia 12 de Março finalmente viram que este protesto não se trata de uma luta intergeracional como muitos o fizeram querer, mas sim um grito de desespero de filhos, país e avós. Um grito de um povo à rasca.

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