a cada instante um ribombar de um trovão


A repentina chuvada desanuviou o ar e todos os ruídos da cidade. Naquele percurso, todos os dias barulhento, todos os dias acidentado, encontrei-me só. Não vi ninguém, não ouvi nada, apenas os meus pés, enregelados, que se esgueiravam apressadamente para casa. A instabilidade do céu e as massas abafadas de ar anunciavam o fim daquele dia. A minha tia morreu, não me viu casar.
Sinto as gotas pesadas assentarem, desconfortáveis, sobre vestido, a aguilhoarem-me a pele nua das pernas. Não corro, não me protejo, entrego-me à excelência ambiente; um cenário meticulosamente montado em contornos nítidos e de fina luz, filtrada em tons de lilás.
Este é o instante: eu e a trovoada. Nada mais.
A morte é isto, um instante inocente como um grito de um trovão.


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