“Esse sentimento de verdade do cinema”

Em Lola, tudo para mim é cinema.
Lola (2009), de Brillante Mendoza, é filme de uma crua pureza que retrata a história da vida de duas famílias, aproximando-se do cinema documental na denúncia que, através de um duro realismo, faz da sociedade, da (in) justiça e da extrema pobreza filipina.

Saí da sala de cinema devastada, perdida ainda pelas ruas labirínticas da chuvosa Manila, sustendo a respiração à chuva, de mãos dadas com as daquelas avós cuja dignidade se revela em cada passo, na luta que travam pelas suas famílias. Uma história de compaixão e perdão que torna as duas avós, aparentemente frágeis, em verdadeiros exemplos de uma heróica força interior.

Sem truques cinematográficos, diálogos desnecessários, teatrais e jogos de luzes artificiais, sentimo-nos arrancados para aquela cidade, molhados pela tumultuosa tempestade. Os planos próximos – que revelam os seus rostos, os seus olhos lacrimosos – e a calma com que são filmadas, tornam as personagens demasiado reais. Caracterizadas por pequenos e deliciosos detalhes, lembram-nos as nossas avós: a forma como caminham, como se comportam e a sua mímica: a maneira como amparam o chapéu-de-chuva, a mão que arranja o cabelo ao vento e a precisão com que são dobrados os lenços que transportam o dinheiro.

A respeito desse realismo, dessa naturalidade no cinema, Brillante Mendoza diz à Ípsilon: “Os planos com cenas de chuva e de vento misturam artifício e realidade, sim", confirma o realizador. "Não estou a perder o que desenvolvi antes, ou seja, esse sentimento de verdade do cinema. Estou a trazer algo de novo ao meu cinema. E alguns efeitos existem para tornar as coisas mais eficazes. Mas, tal como nos outros meus filmes, também aqui não ensaiei com os actores, a não ser questões técnicas. Digo-lhes para fazer o que têm a fazer e filmo-os.

Um autêntico hino ao cinema. Adorei.

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