Em tempos, o avô-contador-de-histórias viveu com uma menina, morou com ela. Era sua neta, a menina dos seus olhos. Brincavam, riam às gargalhadas até doer a barriga, ensinava-lhe ditados, as letras, os números, a tabuada, contava-lhe anedotas, lengalengas, histórias cheias das mais incríveis aventuras, onde voava em balões de ar quente, combatia dragões, nadava no fundo do mar, à procura de tesouros afundados, viajava ao centro da terra, ao outro lado da lua e para lá da nossa galáxia.
Juntos, ele regressava às memórias da infância, momentos que achava perdidos. Um tempo em que nada lhe cansava a curiosidade. Quando o tempo não tinha tempo.
Os dias eram um agora para sempre, esticados desde a primeira luzinha da manhã ao último raio de luar. Piratas, gnomos, monstros, fadas, espelhos mágicos, sereias, bruxas, árvores tagarelas, todas as ideias cabiam na algibeira da imaginação.
Porém, um dia a netinha, mais crescida, mudou-se para uma casa maior, muito, muito longe da casa do avô. Este, por instantes, sentiu-se desanimado, mas depois lembrou-se de que para ver a menina dos seus olhos, apenas teria de os fechar.
Com ela, de mãos dadas, cansados de brincadeira e patetices, era criança outra vez.
Sem comentários:
Enviar um comentário