Certa manhã, um menino curioso, vestiu a camisola do tempo, deu corda ao relógio de ponteiros pontiagudos e saiu à rua à boleia do vento.
Atravessou praças e largos, desviou-se de becos escuros e procurou em todas as montras algo mais que medisse com precisão a passagem do tempo. Tempo que sentia passar por si como um sopro de ar, fugaz, esguio.
Encontrou uma ampulheta e com ela foi ao outro lado da cidade, aquele que fica para lá do rio e do castelo. Pairou sobre os quarteirões da zona antiga, espreitou as casas, os museus, os palácios, as estátuas.
Olhou a ampulheta e sentiu um calafrio. Verificou no relógio que as horas passavam a correr, sem dar tréguas à sua curiosidade em conhecer todos os recantos, sentir todas as cores e texturas da cidade. Deu-se conta, dolorosamente, do tempo à sua frente à medida que via a sua pequena sombra crescer lá em baixo na calçada. Desejava aproveitar todos os segundos da sua breve viagem. Temia não o conseguir.
Começou a flutuar delicadamente por cima dos telhados, afastando-se com cuidado das antenas de televisão, dos ninhos de pássaros, das chaminés fumegantes.
Percorreu de novo as ruas, atravessou praças e largos, desviou-se de becos agora ainda mais escuros.
Fez-se noite, uma noite fria.
Encantado, contemplou de saída, à velocidade do vento, a cidade iluminada. Sorrindo sentiu a geada cair sobre os espantalhos dos campos semeados, os pomares coloridos, os caminhos-de-ferro.
E, aceitando o tempo, realizado e feliz, o menino-bolha-de-sabão dissipa-se no ar, rumo às montanhas.
Cristina Ruivo
Um bom conceito para um conto infanto-juvenil
ResponderEliminarO conceito é já o conto, micro no caso. Sendo conto conta com o conceito e o conteúdo do que e como conta. Obrigado pelas palavras apoiantes.
ResponderEliminarArôs, Pedro, o " Meninos de Bolso" é um projecto desenvolvido a dois, de literatura e ilustração infantis, que mais tarde poderá acolher a música do quarteto de bolso, a banda de um amigo: http://www.myspace.com/quartetodebolso
ResponderEliminar;)