Vejo “Habemus Papam” (2011) tal como numa das cenas iniciais do conclave em que se dá um corte de energia eléctrica. Sinto que faltou a Nanni Moretti energia para mergulhar as mãos nos conflitos internos de uma pessoa em crise existencial, um papa apavorado com a sua eleição. Sinto ainda que lhe escasseou as forças quando colocou o psicanalista, retido no Vaticano por razões de protocolo, frente a frente com os restantes cardeais, exposto aos seus medos e inseguranças.
Existe um psicanalista,
mas não uma terapia; apenas a fuga do papa recém-eleito que se sucumbe a um
momento de introspecção vagueando, anónimo, por Roma. Cidade onde conhece uma
realidade que lhe fora privada, desde que desistiu do sonho de vir a ser actor.
Esta fuga porém é demasiado esquiva, insuficientemente intensa e pouco traz à
luz o conflito com que a personagem se depara.
Moretti faz também o
filme deambular como o incógnito fumo branco da chaminé da Capela Sistina,
orquestrando cenas fabulosas que são subitamente invadidas pelo mesmo apagão
energético do conclave. Esta falha energética acontece não só no final do filme
como, de forma mais gritante, na cena do teatro em que se encena A Gaivota, de Tchekhov. A brilhante actuação é abruptamente interrompida pela entrada
na plateia de algumas figuras do clérigo e por uma injustificada ovação ao papa,
anonimamente recolhido num camarote. Talvez aqui Moretti quisesse piscar o olho
à “veneração pela veneração”; à veneração alucinada à qual a grandiosa
manifestação de arte que habitava o palco passa despercebida.
Procurava neste filme encontrar a “tensão psicanalista” que
a personagem de Moretti, um freudianno
ateu, prometia. Procurava um conflito de crenças, de valores. O Criacionismo e
o Evolucionismo foram timidamente abordados.
Nestas coisas da religião, gosto de fervorosos conflitos de fé e ali
houve voleibol a mais para mim.
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