memória


Tal como nos filmes de Godard, dois adultos corriam pela rua de mãos dadas, desta vez em direcção a um supermercado sufocado: alimentos, detergentes, promoções.
Chilrear. Ambos pararam surpresos com as aves que levantavam voo das árvores daquela quinta centenária.
- São estorninhos, voam assim em bando, formando este efeito maravilhoso.
- Olha aqueles ali com a cauda tão comprida... parecem papagaios! Que pena não ter comigo a máquina fotográfica, daria uma grande fotografia este céu... Bolas, esta necessidade de registar estes momentos chega a ser doentia, porque não me me concentro apenas em contemplá-los?
- Pois...a memória deveria bastar, ela já os regista. Mas já reparaste que que por vezes ela é matreira e "embeleza" um momento que talvez não tenha sido assim tão belo?
- Não concordo! O momento foi tão belo como a memória o recorda, contudo enquanto o vivíamos estávamos demasiado apressados, extasiados, com medo que se ele se escapasse.
- Pois é, com medo que terminasse, fugisse do nosso campo de contemplação.
- Sim, com medo que os pássaros voem demasiado rápido.

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