Por entre a azafama turística dos restaurantes com empregados multilingues, que nos empurram competitivamente ementas de peixe fresco enquanto caminhamos, encontro a porta n.º 38.
Longe das ementas plastificadas, dos empregados suspeitamente simpáticos, astutos, encontro pormenores esquecidos pela massificação turística daquela zona. Lamentarei o dia em que esta porta seja substituída por mais uma pivotante, em vidro, laminado, temperado, de alta segurança, com ferragens em inox escovado, fechos electromagnéticos, publicidade em vinil autocolante e sistema de alarme.
Esta porta mantém-se resistente, timidamente sufocada pelo ruído da rua pela qual detesto passar. Onde me sinto longe de Lisboa.
A sua fechadura sela segredos, cantigas, orações, lágrimas e as suas camadas de tintas conversam entre si acerca daquela e da outra história. Da vez que foi lançada irada, magoando-se com o estrondo; da vez que se abriu suavemente para um intenso beijo apaixonado, das cócegas das crianças que corriam para dentro e para fora, dos gatos, dos pombos, do senhora que consigo esperava o marido ao final da tarde... Relembram cada mão que a tocou, cada momento que testemunhou.
Porta-memórias.
que maneira tão bonita de começar a minha semana. uma inspiração.
ResponderEliminarobrigada valente, um beijãoooooooooooo. Não me esqueci do nosso café-apressado esta semana pós laboral
ResponderEliminarhum... que bem! que bem! quem diz café, diz carioca de limão. beijo
ResponderEliminarA porta dos sonhos. :)
ResponderEliminarhum...porquê dos sonhos?
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