“Ah o êxtase dos namorados

que se olham, beijam, voltam a olhar e já não sabem

que mais hão-de fazer, que mais hão-de inventar.”

Alexandre O’Neill


A Espuma da Língua

Falamos a mesma linguagem.

Não, melhor, o mesmo silêncio.

As palavras não querem dizer nada,

emudeceram no clamor dos corpos

rebentando, com a urgência das ondas,

um rochedo contra outro.

As palavras não querem dizer nada,

meu amor, e os gestos são mudos,

o silêncio é o compêndio de todos os

incêndios suados:

branco, azul, memórias d´cor

e salteadas,

comida para dentro, para dentro

de mim, comida de ti, de dentro de ti,

para dentro, para dentro de mim

e assim reciprocamente.

As palavras, bem sabes, não querem dizer nada,

já o mutismo de dados gestos daria para povoar

o tempo e o espaço baldios

de todas as bibliotecas do nosso e dos outros mundos,

e o entendimento órfão entre todos os povos e indivíduos.

Não há hora marcada para isto,

um momento ideal para nada disto,

convencionou-se dizer, efectivamente que há,

todavia nem pensar; isto não se teoriza, intelectualiza, planifica,

não se filosofa, não se explica, não se postula,

bioquimica, preconiza, determina, conversa,

negoceia, acorda, isto é,

ISTO É E DEIXEMO-LO SER.

O TEMPO NECESSÁRIO

E O INÚTIL TAMBÉM:

ISTO é nosso

máximo denominador comum.

Bruno Sousa Villar


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