Desci, discreta, de pés cautelosos, evitando pisar os ásperos tufos de cabelo negro que se espalhavam pelo empedrado das escadas daquele prédio. No último degrau, junto ao patamar que precedia um corredor soalheiro, encontrei uma prostituta de longos cabelos pretos, sentada, violentamente enrolada sobre si. Levantou rosto à minha passsagem. Via-a tremer de frio, de fome e de medo. Vi-lhe as rugas, numa cara seca, vincadas por uma vida de vão de escada.
De olhos baixos pediu-me desculpa pelos cabelos mortos que ultimamente se acumulavam ao seu redor e que se alastravam por todo o espaço: "Não tenho forças para os limpar.".
Agachei-me e perguntei-lhe pelo seu nome. "Nada", respondeu-me. Rapidamente, sentindo a proximidade do meu olhar, corrigiu: "Nádia! Desculpa, nunca perguntam o nome."
- Precisas de alguma coisa, Nádia?
- De tangerinas.
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