... disse Michael (John C. Reilly).
Eu também sou.
E tu, não o serás!? Escondes, ou desconheces sê-lo pois nunca alcançaste o teu limite?
Baseada na peça de "Le Dieu du carnage" de Yasmina Reza , "O Deus da Carnificina" de Polanski recorre à sala de estar da família Longstreet e a uma pretensa conversa civilizada acerca de um conflito entre o seu filho e o dos Cowan, para cada personagem cuspir, a nu, as suas verdadeiras fragilidades, sofrimento e raiva.
O conflito entre os jovens, delicadamente abordado no início, faz resvalar as secretas dinâmicas em ebulição de cada personagem, e, consequentemente, de cada casal. A sala, bem decorada, meticulosamente arrumada e adornada com tulipas e livros de arte, torna-se um espelho da tensão existente em cada relação interpessoal.
Não existem indivíduos genuinamente ponderados, serenos e cordiais. Nunca houve. Existem sempre fantasmas, inseguranças, medos e vaidades que latejam nos seus comportamentos mudos e socialmente espartilhados.
Esqueçamos as doces princesas e os bravos cavaleiros. Já os viram?
Não há amores de finais facilmente felizes. Há apenas amores. O tempo arrasta as promessas e as gargalhadas ingénuas para um redemoinho de tensões. Nada é perfeito, nem no amor: fraterno, familiar ou erótico. É conflituoso. Se nos alimenta, também nos magoa e destrói, ao contrário do que se cobre em largos sorrisos e projectos ídilicos. Aquilo por que mais ansiamos é também a faca que mais nos fere. Creio ser humilde olhar os dois gumes.
Se a falar a gente se entende, por vezes, há sentimentos engasgados que só são capazes de serem expressos através de um grito ou de um choro violento. Na sala nova-iorquina despem-se todas as dinâmicas que fingimos não ver pairar sobre nós. Gosto desse cair das aparências que tanto estimamos. Estimamos todos, sem excepção.
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