Apesar da sua visão de humanidade, não tão pessimista como verdadeira no pior dos nossos defeitos, Saramago afirma que se todos os amantes da beleza pudessem juntar esforços para combater as barbaridades do ser humano talvez se conseguisse dignificar o Homem. “Espero morrer lúcido e de olhos abertos”. Saramago fala-nos, sempre nos falou, sobre a Lucidez.
No fabuloso documentário de Miguel Gonçalves Mendes o casal Saramago e Pilar abre-nos a porta de sua casa.
"A vida de cada um de nós vai sendo contada em tudo quanto fazemos e dizemos, nos gestos, na maneira como andamos e olhamos, na maneira como viramos a cabeça ou apanhamos um objecto do chão". É assim que, com o decorrer do documentário, Saramago e Pilar se dão a conhecer.
Saramago é, mais do que um homem humilde, mais do que o brilhante escritor, um sábio a quem apetece não parar de ouvir. A sua clareza e consciência fazem-me acreditar que a sua missão foi, mais do que literária, a intervenção na sociedade.
Em "José e Pilar" fala-se da morte, de deus, do sentido da vida e do Homem. Assistimos às viagens, às cansativas conferências de impressa, às infindáveis sessões de autógrafo, às refeições, aos serões, à doença e à recuperação do escritor; a vida de um casal, o sereno, tímido e provocador José Saramago e a enérgica e poderosa Pilar del Río. “Se eu tivesse morrido aos 63 anos, antes de conhecer Pilar, morreria muito mais velho do que serei quando chegar a minha hora”.
Em "José e Pilar" fala-se sobretudo de amor, através do inseparável percurso do casal, através das duas mãos que se procuram e se entrelaçam constantemente. Segundo o realizador, os dois completavam-se. “Ela lhe deu uma segunda vida”.
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