Kilims

A palavra kilim significa “tapete sem pêlo” ou “tapete de dupla face”. Os kilims são reversíveis uma vez que na sua produção, em vez dos nós utilizados na confecção dos tapetes mais frequentes, são dadas laçadas por entre os fios da urdidura, tal como se de um bordado se tratasse.

Existem diversos termos para a sua denominação: gelim no Irão; kelim no Afeganistão; kylym na Ucrânia, palas no Cáucaso, bsath na Síria e Líbano, chilim na Roménia e kilim na Turquia, Polónia, Hungria e Sérvia.

Fotografia tirada entre 1873 e 1890 em Isfahan, Irão onde podemos observar duas mulheres a tecem, num pátio, um kilim num tear de chão. Fonte:"Living Kilims" da Thames and Hudson.

Uma vez que eram utilizados na sua produção materiais de pouca resistência, os kilims encontrados nos locais arqueológicos revelam-se insuficientes para a afirmação de uma data ou modo de tecelagem original. Neste sentido, é difícil estabelecer o seu aparecimento ou a tribo que o produziu. Todavia, em 1947, um arqueólogo russo, durante as escavações a uma sepultura no sul da Sibéria encontrou um kilim extremamente bem conservado. Após diversas análises, constatou-se que a peça pertenceria ao século 5 A.C.

Até há poucas décadas os coleccionadores consideravam o kilim de inferior qualidade em relação aos tapetes orientais. Durante gerações foi esta a ideia que se manteve dos kilims, sendo que na maioria dos livros especializados em tapeçaria descreviam-nos em poucas linhas, como sendo um simples e inferior produto tribal. Há três décadas deu-se uma explosão de interesse nestas peças para fins decorativos, utilitários e para colecção, sendo que as suas características e qualidades conquistaram todo mundo ocidental.

Porém existem ainda kilims que continuam a ser utilizados tal como foram durante séculos na Ásia: como peças decorativas que cobriam o chão, paredes e mobiliário. Todas estas funções expõem o carácter e tradições das pessoas que os teceram à mão, nos seus teares rudimentares, usando técnicas específicas de tecelagem, motivos e composições, transmitidas de geração a geração.

A técnica de tecelagem utilizada, a que apenas entrecruza os fios de lã, cabelo ou fibras vegetais, deverá ter surgido para fazer face às necessidades básicas de vestuário, abrigo, armazenamento ou para o conforto dos abrigos – como almofadas, cobertas para o chão e paredes.

Tear horizontal de chão. Este tipo de teares era utilizado pelos povos nómadas para produzir kilims e outro tipo de têxteis . Eram facilmente montados e desmontados e transportado por camelo.Fonte:"Living Kilims" da Thames and Hudson.

Uma mulher no norte do Afeganistão tece uma tira para envolver a tenda ou para coser a outras para fazer um ghujeri. Ela está a trabalhar num tear de chão tradicional , usado durante séculos sem alterações pelos povos nómadas. Fonte:"Living Kilims" da Thames and Hudson.
A produção de kilims nesta aldeia no norte da Síria funciona em pequenas empresa familiar como uma linha de montagem industrial. Aqui vemos um tear horizontal, relativamente sofisticado, e a preparação e aplicação da tinta na lã. Fonte:"Living Kilims" da Thames and Hudson.

Apesar de existirem inúmeras referências históricas, é certo que esta simples técnica de tecelagem era uma ocupação estabelecida e florescente à data. A domesticação da ovelha, da cabra, dos camelos e dos cavalos tornaram a lã e o pêlo facilmente disponíveis, por outro lado, os pigmentos foram sendo desenvolvidos, sintetizados a partir de fontes animais e vegetais.

Os motivos e elementos de decoração dos kilims estão intimamente associados à identidade de cada tribo. Os símbolos e desenhos aplicados eram claros e fáceis de serem reconhecidos a uma determinada distância, de forma a permitir que todos aqueles que circulassem por perto conseguissem distinguir a tribo. Estes símbolos tribais, por outro lado, reforçavam a integridade do próprio grupo.

As tribos nómadas utilizam também os kilims para revestir a estrutura de madeira das suas tradicionais tendas redondas, de tectos ligeiramente abobadados. Fonte: "Living Kilims" da Thames and Hudson.

As tribos nómadas ou semi-nómadas enrolam ou dobram os kilims no dorso dos camelos ou dos burros quando se movimentam. Os kilims dobrados servem como suporte para o transporte de vários utensílios. Fotografia tirada junto de Herat, no Afeganistão."Living Kilims" da Thames and Hudson.

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