a tradição têxtil em África

África possui uma longa tradição têxtil que inclui uma vasta variedade de materiais, estilos, padrões e utilizações. Os tecidos são usados não só para vestuário, como para adorno, decoração, ou ainda enquanto veículo de mensagens ou como moeda para trocas comerciais.
Os primeiros tecidos eram realizados com cascas moídas de árvores, aproveitando sobretudo a zona interior da casca, mais fibrosa. Esta técnica era corrente numa extensa área do continente africano. Actualmente, são encontrados sobretudo na África central, decorados com tintas vegetais.
A matéria-prima, depois de extraída da árvore é demolhada ou fervida em água durante algumas horas para amolecer. Posteriormente, é batida com pedras de forma a esmagar as fibras e extrair os materiais lenhosos e as impurezas. A casca é colocada novamente em água para ser novamente calcada. Este processo de preparação da casca é repetido durante vários dias, podendo alcançar um mês de trabalho. Por fim a casca é submetida a um processo vagaroso de secagem para que não resulte rígida e quebradiça. O produto final assemelha-se a uma folha de papel, resistente, flexível e bastante macio ao ponto de ser possível costurá-lo.
A tecelagem foi desenvolvida a partir do século XI. Nesta mesma época, a expansão do Islão introduzindo novos códigos de vestuário o que desempenhou um papel importante no desenvolvimento de determinadas técnicas de produção dos tecidos, sobretudo na África ocidental.
O tear de faixa estreita, os teares simples, os de chão e os de ráfia eram apenas utilizados por homens. Todavia, numa ampla área junto à Nigéria, incluindo a zona oeste dos Camarões, já as mulheres teciam utilizando teares verticais, apoiados numa parede. O tear horizontal permitia a confecção de várias tiras que posteriormente eram cosidas longitudinalmente, formando tecidos maiores.
Estes trabalhos habilíssimos foram, mais tarde, introduzidas como moeda de troca, através dos quais era possível estimar o preço de produtos e comprar mercadorias. Em várias sociedades africanas, a quantidade de tecidos pertencentes a cada família constitui um símbolo de riqueza e poder.
Os tecidos constituem presentes singulares, deste modo, o poder de cada família mede-se não só pela quantidade dos seus bens, como ainda pela possibilidade de os distribuir. Presentear alguém com tecidos possibilita a solução de conflitos, a resolução de várias situações e a celebração de momentos especiais da vida de cada membro, tais como o atingimento da maioridade, o matrimónio, o nascimento de filhos, netos ou a morte de um parente.
De forma a garantir boas relações sociais, cada membro da sociedade é desafiado a oferecer e a receber tecidos. A posse de um largo conjunto de tecidos aumenta assim o prestígio do seu proprietário, possibilitando-lhe uma participação mais activa na vida comunitária.
Os tecidos possuem ainda uma função simbólica, através do seu estampado – que se assemelha a texto onde se encontram referências à identidade social e religiosa daquele que o usa. Assim, desempenham um importante papel na vida ritual, presente igualmente no momento da morte. Os mortos são vestidos ou envolvidos em tecidos, de maneira a serem protegidos pela palavra dos vivos.

Sem comentários:

Enviar um comentário