vergonha é NÃO ter grandes questões

Adoro o meu novo trabalho. Encaro-o, para além de muito muito mais, como um posto de vigia onde observo atentamente comportamentos humanos. Ali sinto-me a enriquecer todos os dias. Cresço, cresço, cresço. Torno-me uma pessoa mais consciente.
Depois de exercer arquitectura em ateliers fechados ao mundo, áridos de emoções e de contactos humanos, reconheço que um trabalho, para mim, nunca poderá ser apenas a execução de tarefas. Sufoco. Preciso de uma energia que só o contacto humano directo me permite.
E esta noite, depois de atender uma série de casais disfuncionais com crias (porque o são, apenas crias), mimadas, mas mal-amadas, penso na sorte que tive em ter levado aquele pontapé há um ano. Aquele pontapé que me fez repensar, reflectir-me.
E quando me perguntam se não me faz confusão ter um curso e não o exercer, digo que NÃO!, porque naquele modelo de trabalho nunca me senti expandir como agora, inspirada, motivada, feliz. E quando me perguntam se não me envergonho em trabalhar numa loja, lembro-me da história da Regina, uma colega, que quando uma criança atravessou o balcão para roubar um chupa-chupa a mãe disse:
- "Filho, não te ponhas aí atrás que isso é descer na vida."
Ela respondeu qualquer coisa como:
- "Pois é pequenino, roubar é descer na vida."
Vergonha é (des)educar assim uma criança, pensar como esta senhora e deixar tal preconceito limitar as suas experiências de vida. Vergonha é comportar-se de forma snob e viver sem levantar questões, seguindo passo a passo um caminho planeado, controlado, confortável. Vergonha teria eu ao sentir uma vida insípida, sem as cores da criatividade e a vibração de poder sentir-me espontânea.
Felizmente, levei aquele pontapé e não me tornei em mais uma deles!

4 comentários:

  1. onde raio estas tu a trabalhar? *sonia

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  2. Minha querida, que bom que percebes que tudo o que é colocado no nosso caminho tem um propósito, que é o de nos presentear com uma oportunidade de nos transformar. A transformação é talvez a única forma que temos de realizar uma mudança positiva na nossa vida e até no mundo. Um abraçinho (mãe da Ana Caracol)

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  3. Olá, Cristina, que sorte que tem quem é atendido por ti...ou não, é imediatamente radiografado! ;-). Observo com muita curiosidade e amizade o que se passa na tua vida...

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