Madrugar, sol, Instituto Superior Técnico, Núcleo de Arte Fotográfica (NAF), sol, encontros, reencontros, sol, experimentação, fotografar o rapaz que fala muito com as mãos, sol, sol, muito sol, quanto maior a abertura do diafragma menor o campo focal, ou maior?! uffff...sinto-me tão baralhada, sol, ventoinha, água, água, água, ar-condicionado, grande caminhada, sol, muito sol, Gulbenkian, exposição com água no nome quando o que mais tenho é sede, sede, bar, ar-condicionado, Cinemateca, ar-condicionado e relações amorosas disfuncionais na tela, ahhh...está agora frio, frio, muito frio.
Acordo sem voz.
Uma vez sonhei que estava a ser torturada e que alguém se dirigia para o quarto da minha mãe para a torturar também. Enquanto se aproximavam da sua porta eu tentava gritar para a avisar, mas a voz não me obedecia. Ontem revi essa sensação. E naqueles segundos em que ainda não me tinha apercebido da minha previsível afonia, senti-me infinitamente muda, amputada. Nesse ínfimo momento tive a certeza de ter perdido a voz e que ficaria, desde já, fechada, sozinha do lado de cá.
Examinar estes limites e querer ter consciência deles é sem dúvida um grande desafio, uma provocação entre mim. Observo o espanto que sinto quando há um desequilíbrio, um evidente desencontro com o meu próprio corpo. Sentir como qualquer impressão fora do comum me conduz para uma excessiva atenção sobre uma parte do corpo e para a sua efectiva existência. Só verificando essa impressão sei que ele é real. E lembro-me de João de Em Nome da Terra que experimentando uma mutilação toma consciência do seu corpo: " É este chato do corpo que até agora não existia".
Falar, falar, falar ... e se de facto eu tivesse acordado sem mais poder falar?! Nesse instante, nesse receio, a minha voz foi tudo, tudo o que sempre fui e seria, foi a minha própria definição.
E à medida que saía desse estado, já consciente da minha temporária mudez, fui imaginado o desfibrar das cordas vocais a cada esforço que fazia para tornar a voz firme. Cordas vocais espigadas e exercícios de colocação de voz na cozinha: "Áaaaaa Áaaaa Áaaa, olá olá olá, bom dia bom dia".
Ri-me da minha bizarra aflição. Preciso de Vergílio Ferreira.
Fica um dos resultados do workshop no NAF, um fotograma cheio de texturas.
Minha querida, ficar sem voz no dia em que se experimenta a beleza dos "sais de prata" parece quase uma partida do destino! Quem sabe se mais tarde não pensarás que este foi o dia em que a tua voz escolheu outro modo de se fazer ouvir.
ResponderEliminarMuito bem pensado! ;)
ResponderEliminarSem dúvida que o "silenciar dos sentidos" não se aplica apenas como forma de tranquilizar a mente, como um processo meditativo, abrindo também portas a novas formas de expressão! ;) Que desafio!
Mais uma vez, obrigada pela experiência **