4ventos

Vi agora as malas ainda por desfazer no meu quarto e recordei com saudade o meu fim-de-semana.

Costumo enfrentar sensações semelhantes às que sinto agora quando saio da sala de cinema depois de um bom filme. Como que numa resistência para não sair do filme e preservar o que ele me trouxe, estranho os sons, os movimentos, os carros e as pessoas com quem me cruzo na rua e inquieta-me o seu alheamento em relação à história que me acabam de contar. Nada com o que me deparo parece ter um sentido claro, verosímil, pois tudo é questionável.

Esse meu retorno não é mais do que um processo arrebatador de maturação de conceitos, ideias e perspectivas. Um processo semelhante ao de alguém que encara um clarão e que, com a visão enublada, tacteia em seu redor procurando identificar os objectos que conheceu outrora, acabando por se deparar com formas e texturas nunca antes experimentadas

Vou saindo do filme à medida que reflicto sobre os seus momentos, deixando de o ver como um conjunto de percepções ainda confusas e soltas, para ler nele uma ideia coesa, enlaçada numa interpretação, numa conclusão. Vou saindo do filme à medida que faço o ajuste entre os dois ritmos, o dele e o meu.

Não podia ter gostado mais destes dias no retiro 4ventos, e agora que os revejo, recordo um grupo tão intimamente perfeito como um sistema em equilíbrio, onde tudo funciona harmoniosamente, gravitando em torno de uma poderosa energia. Acredito mesmo que nenhuma de nós estava ali por acaso e que cada uma tinha consigo uma palavra a acrescentar à história do lado.

Estou ainda no meu momento pós-filme e esforço-me para fazer demorar a sensação de êxtase que veio comigo de Mafra.

Há situações capazes de proporcionar um mergulho tão profundo, tão íntimo, constituindo um vislumbre de algo realmente sagrado, inviolável.

Há momentos assim... de pulsão, de expansão, de crescimento.

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